quarta-feira, novembro 17

Fim de semana cheio

Por fora, pessoas, lugares, músicas; por dentro tempestades e calmarias.
Foi a mae de Hille quem quase me empurrou porta afora. Ao meu menos sinal de interesse pelo grupo de jovens na igreja, ela acionou as partes para que eu pudesse ir para a reuniao do grupo sexta à noite. Assim, de minha parte, aproveitei o empurraozinho pra combinar algumas coisas, dei alguns telefonemas e enchi a agendinha.

Sexta-feira
De manha, fui para a cidade com Harald, como sempre. Fui direto para o RRZ (computadores) e às 10:00 estava correndo para a Stabi (biblioteca central) encontrar com Miguel, o brasileiro do Ceará. Conversamos um pouco sobre a vida... ele está há 8 anos aqui, terminando o segundo mestrado e meio sem saber o que fazer... casou aqui, e agora vai caindo a ficha de que aqui ele nunca vai ter tao reconhecido como seria voltando para o Brasil. Muitos brasileiros estao aqui nessa situacao. Ele me apresentou o Cláudio, outro brasileiro de Recife há sete anos na alemanha, mas Claudio nao está dividido, está louco pra voltar pro Brasil. Conversamos bastante, almocamos eeles me apresentaram Stabi, me ensinaram mais ou menos como funcionam as coisas por lá e sentamos algumas horas para estudar.

Às quatro da tarde eu fui encontrar Romina, a menina de Goa, na Índia. Muito legal. Tomamos um café, depois fomos dar uma volta no parque de diversoes que todo ano eles montam nesta época do ano. Consegui escapar por pouco de ser obrigada a andar numa montanha russa enorme com um monte de loopings!! Minha sorte é que, apesar de ser pequena, Romina é ainda menor :) Ela é muito legal.

Saí do parque atrasada, correndo para me encontrar com Hanno. Ele mora do lado da igreja, e eu tinha que ir até lá pegar a chave do apartamento com ele. Ele iria sair e por isso eu poderia ficar no quarto dele à noite, já que nao dava pra voltar pra Buchholz. O detalhe é que eu nunca tinha ido lá sozinha :) Resultado: Carol atrasada, molhada de chuva, perdida, numa cabine telefônica. A sorte é que eu nao estava longe e, depois de falar com ele, encontrei o lugar rapidinho.

Reuniao de Jovens
Tudo de volta sob controle, fui para a igreja. A reuniao, que normalmente comeca às 7h30, comecaria apenas às 8h. Por isso fiquei lá sentada esperando, um pouquinho ansiosa. Até que chegaram duas meninas legais e puxaram assunto. Logo chegou mais gente com chá e biscoitos gostosinhos :) aos poucos já éramos uns 20, nenhum adulto. Nora, a menina que morou um ano no Brasil, ainda nao tinha chegado quando comecamos. As luzes principais foram apagadas. Nós estávamos sentados em cadeiras dispostas em fileiras voltadas para uma parede onde seriam projetadas as letras das músicas. Nas cadeiras da frente, algumas pessoas que iam tocar: dois violoes, um teclado e uma percussao. Comecamos a orar, em silencio, depois alguns em voz alta espontaneamente. Um rapaz comecou a explicar por que tinha uma tela de cavalete lá na frente; disse que seria legal se cada um, ao longo da reuniao, levantasse e pintasse livremente qualquer coisa na tela, e no final deveriamos ter uma composicao interessante. Uns papeizinhos com referências de versículos foram distribuídos. Depois oramos o Pai Nosso, e ele comecou a refletir um pouco sobre parte por parte da oracao, acrescentando algumas outras passagens da bíblia, queeram lidas por quem tivesse o respectivo papelzinho. Ele nao estava de pé, nem mesmo com a cadeira voltada pra nós, mas sentado de forma que nao daria antes pra saber que seria ele quem dirigiria a dinâmica. Os versiculos e as palavras dele se intercalavam com as músicas. Essas, por sua vez, eram lindíssimas! Eram todas músicas de adoracao. Eu sou meio cricri pra letra de música de igreja, as classifico em vários tipos. Tem as de propaganda („deixa tudo entao, vem, seja feliz também, com Jesus“), tem as de auto-ajuda („você tem um valor, o espírito santo se move em você“), tem as mais apoteóticas („o nosso general é Cristo, seguimos os seus passos, nenhum inimigo nos resistirá“), tem as de comunidade („eu preciso de ti, querido irmao, precioso és para mim, querido irmao“) e tem as músicas de louvor. Dentre as de louvor, tem umas que declaram admiracao a um Deus enorme, Senhor dos Exércitos, Todo Poderoso, e tem outras que declaram amor a um Deus próximo e presente. Essas últimas, dentre todas as músicas, dentro ou fora da igreja, sao as minhas favoritas. Sao as músicas que tocam sempre na radiola na minha cabeca. Pois bem, todas as músicas da reuniao eram desse tipo. Algumas eram em alemao, outras em ingles. Nao consigo descrever muito bem o que senti nessa reuniao. Ela se pareceu muito com uma idéia que eu tinha na cabeca antes de vir pra cá, de me juntar com um grupo de amigos só pra louvor. Seria um grupo que nao se juntaria em conversas teológicas, nao discutiria doutrinas, simplesmente uniria seus coracoes em louvor compartilhado, em amor compartilhado. Seria um grupo horizontal, em que ninguém se proporia a ser porta-voz licenciado de uma verdade absoluta. Tudo semelhante à reuniao. Até esteticamente o momento foi impressionantemente especial. A música era tocada do jeito que eu gosto, voces sabem, violao e percussao. As pessoas cantavam muito muito bem, dividiam as vozes; lindo lindo :) Minha sensacao ali foi a de quem recebe um presente, ou de quem come sua comida favorita depois de muito tempo de fome. Foi a sensacao de quem tem uma oracao respondida. Nao sei quem de voces consegue imaginar. Me senti profundamente feliz, e me deliciei com cada segundinho que durou a reuniao. Ao final, sempre com os pés no chao, como boa capricorniana que sou, me cuidei para nao me entusiasmar além da conta. Soube que o encontro nao é sempre assim, normalmente é na sala de jovens, no porao da igreja, onde tem alguns sofás, um totó.. o pessoal fica por lá, oram juntos, conversam muito. A enfase no louvor tinha acontecido porque essa era uma reuniao de louvor, mas nao é toda sexta-feira assim. Decidi de qualquer jeito me aproximar do grupo. Ah, li em voz alta o meu versículo, quando chegou a minha vez, depois de anunciar que tentaria, pesar de o meu alemao ainda engatinhar :) Fui uma das últimas a ir embora, já perto de meia noite.

Sábado
Acordei um pouco tarde e ainda fiquei enrolando mais ainda na cama. Meu programa de sábado só comecaria ao meio-dia. Fui almocar com o pastor brasileiro sobre o qual contei aqui, e com a família dele. Cheguei na casa dele para ajudá-lo a fazer a lasanha que comeríamos (cortei cebolas e tomates, ele cozinhou. Ficou uma delícia). A esposa, conheci enquanto entrava; ela saia. Na hora de comer ela voltou. Guarani uruguaia, é doutora em teologia, estudou no seminário batista do recife e foi convidada a cinco anos pra dar umas aulas por aqui. Aí combinaram pra o marido aproveitar e fazer o doutorado dele. Os dois têm duas filhas: uma de 12 anos, que o pai acha parecidíssima comigo, e uma de 7. A situacao linguística da família é caótica. A pequena entende espanhol e portugues, mas só fala alemao. A maior tanto faz falar alemao, espanhol ou portugues. A mae fala normalmente portunhol; o pai, portugues; mas ambos intercalam um ou outro termo em alemao :p De quebra, tem uma hondurenha morando com eles. Foi uma tarde bem agradável :) Saí pouco depois das 4h pra voltar pra Buchholz. Fazia frio, choveu granizo na hora do almoco. Fui até o extremo sul da cidade e lá peguei o ônibus até Buchholz. Cheguei em casa cansada, com frio e feliz :)

Domingo
Fomos para a igreja de manha. O culto aqui é engracado... a igreja é num prédio antigo bem bonito, mas a nave é pequena e tem pouca gente, a pessoa que toca o orgao toca muito mal e só se tocam hinos tradicionais no culto. Eu acho bem engracado :) Quanto ao sermao, soh entendo muito por alto. Domingo foi dia de finados. A caminho da igreja, paramos num cemitério pra deixar um arranjo na sepultura dos avós de Hannelore. Lá por perto tinham algumas macieiras, e Harald pegou uma maca pra mim, que estou comendo agora enquanto escrevo e, sem demagogia, é a melhor maca que já comi. Eu sabia que às 5 os jovens iam pra uma outra igreja (que aqui eles chamam de Gemeinde – comunidade) daquele movimento Vineyard, que tem muita música nos cultos. Eu queria ir também, entao tinha que arrumar alguma coisa pra fazer em Hamburgo do final do culto, meio dia, até as 5 da tarde. Nora foi a solucao. Primeiro ficamos todos muito tempo lá conversando (sempre tem um cafezinho depois do culto). Depois fomos eu, Nora e mais umas três pessoas para a casa de dois meninos do grupo, que moram juntos, e estavam preparando o almoco pra nós.

Emancipacao masculina
Nao muito longe era o apartamento dos meninos. Um deles era o que tinha dirigido a dinamica da sexta-feira. O outro tinha tocado violao. Chegamos, nos serviram de chocolate e ficamos esperando o almoco sair, conversando na sala. Foi só depois de um comentário de Nora que eu me dei conta da situacao. Ela disse: „engracado... em outros países, como no Brasil, é muito raro isso: os meninos na cozinha e as meninas na sala esperando a comida“. É... concordei com ela. Aí lentamente comecei a olhar o apartamento como se nao fizesse já uma hora que estava lá. Percebi como era bonito, decorado com muito carinho. Na sala tinha um jogo de sofás com um centro no meio; do lado direito, um janelao com vários porta-retratos no para-peito, uma TV pequena no cantinho e uma luminária muito bonita; do lado esquerdo, um som completo, uma estante com cds, livros, vinis. Eles tinham um quadro com uma foto dos Beatles na parede em cima do som. Do outro lado, em cima do sofá, um quadro com várias fotos em preto e branco, de pessoas tocando instrumentos. Na parede oposta à janela, um quadro pintado pela namorada do que toca violao – uma guitarra. Tudo de muito bom gosto, muito arrumado, muito lindo! O almoco servido foi maravilhoso! Depois sobremesa, cafezinho... heheheh! Impecáveis. E aqui nao é nada especial, é bem normal. É a emancipacao masculina! Os homens conseguem viver bem, num ambiente limpo, bonito e agradável, mesmo sem mulheres :) Que legal!

Vineyard
Depois fomos pra Vineyard, mas isso nao vale muitas linhas. Foi um culto nao diferente de cultos no Brasil, com uma banda de louvor boa e tal. De diferente teve que as criancas podem ficar correndo e brincando no meio do louvor (e da pregracao também, que acontece depois de um intervalo pra cafezinho depois do louvor) e o jeito deles fazerem a santa ceia. As pessoas ficam em pé em fila, recebem o pao e o vinho do vizinho da frente e o passam pra o vizinho de trás. É uma comunhao bonita. Depois de lá, tinha que esperar o último ônibus pra casa (eles só saem em determinados horários nao tao frequentes) e por isso fui com a Nora pra um Café perto da igreja. Ela é muito legal, muito bom tê-la encontrado aqui.

Foi isso.

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