quarta-feira, agosto 6

A Rainha e o Devorador

Vejo um rapaz bonito. Ele é jovem, alto e esbelto. Tem feições fortes, queixo largo, lábios espessos, cabelos castanhos na altura dos ombros. Sua pele é clara, mas não muito. Ele veste verde-água. Um traje comprido. Está aborrecido, rosto franzido. Talvez um pouco triste. Algumas belas moças tentam acolhê-lo e alegrá-lo. Outros rapazes se mostram impacientes. Ele mesmo não parece ceder aos consolos das moças e seu rosto não relaxa; ao contrário, sua agonia parece aumentar. Ela então se aproxima. A rainha. Ela vem. É muito mais alta que os demais, e sua postura em muito ainda a engrandece. Tem cabelos castanhos muitíssimo compridos, adornados por tiaras. Veste um vestido comprido de prata e todas as cores. Sua presença aquece e causa admiração em todos ao redor.

Ela então parece deslizar até a direção do rapaz e para ele estende a mão. Sua expressão é de alguém que tenta compreender uma situação. O jovem então a olha nos olhos, mas a sua frieza fica então ameaçada pelo calor dela. Então de súbito, por causa do medo ou do ódio, ele ataca com os dentes a mão dela estendida. Começa a devorá-la! Todo o seu corpo se deforma e ele assume forma semelhante a uma enorme boca. Devora o braço. A expressão da Rainha, nessa hora, ninguém pode ao certo descrever; mas alguém ousaria chamar de concentração. Logo também seu rosto e sua cabeça intera são engolidas pelo monstro. Grande desespero nessa hora se abate sobre todos ao redor, que lamentam com muitas vozes, algumas doces e cheias de dor, outras iradas, outras ainda temerosas, mas não completamente desprovidas de esperança. Mas a rainha estava agora quase completamente devorada, exceto os pés.

De súbito, seu corpo começa a reaparecer como luz, que emana a partir da mão outrora estendida e devorada. A mão de luz então toca o monstro, e o monstro sente dor. Ela então o abraça e tenta acolhê-lo, para que ele se acalme, pois ela o ama como um de seus súditos. Ele, no entanto, não pode suportar a dor causada pelo abraço quente da linda rainha, ainda incandescente e, desvencilhando-se, vai ao chão. Arrasta-se muito rápido pelo chão, até as águas verdes cristalinas do lago em frente ao castelo. E some, indo para longe e para fundo. A Rainha, no entanto, não se entristece e nem se alegra com a fuga do Devorador, pois compreende os mistérios do seu reino e confia na harmonia a eles intrínseca.

Nesse fim de tarde e durante toda a noite houve festa e celebração, pois todos se maravilharam com a força e o poder inigualáveis da bela rainha e renovaram sua confiança nela.

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