segunda-feira, setembro 13

Aceno de adeus no início da primavera

Enquanto a primavera se aproxima, o frio vai se tornando implacável na Alemanha . Nada na vida é por acaso, e que se faça verdade entre o choque dos velhos antagonismos. As flores espelham seus sinais silenciosos pela paisagem a despeito das árvores que caducam geladas. Pássaros e borboletas desfilam cores e plumagens enquanto os ursos hibernam. As crianças brincam alegres nos parques, outras se enrolam em seus cachecóis. O sol brilha sem nuvens, as nuvens choram, do outro lado do mundo, neve e chuva, sem sol.

No coração a primavera já chegou, nos dias finais de setembro, mas especialmente nos primeiros dias de outubro. E com ela, toda seiva que congela, toda cor que acinzenta, toda criança sem sorriso, todo o frio trêmulo de osso, carne e alma. Olho a tudo com olhos rasos, querendo me entregar ao pranto. A lágrima que rola carrega o que ainda há de calor, desse gélido outubro, das lembranças das últimas primaveras, das promessas, da vida. Desce quente pelo rosto, contornando minha expressão da despedida. No chão, cai já congelada, e a primavera termina, aqui, no Rio de Janeiro.

Adeus, dizem todas as coisas a tudo que se esvai.

André Kano
http://mratk.blogspot.com

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