sexta-feira, novembro 5

Quarta

Buchholz Parte I – A casa
Quarta-feira foi o primeiro dia em que pude realmente ver a casa de Harald e Hannelore (pais de Hille) em Buchholz. Cheguei nela terca, tarde da noite, e no escuro dava apenas para ter uma idéia.

A casa, vista de fora, nao parece tao grande quanto é. Entre ela e a ruazinha curva em que está situada, fica um jardim meio, digamos, selvagem, mas bonito. Cruza o jardim uma escada de uns oito a dez degraus largos, pois a casa fica num nível mais alto que a rua. No fim da escada, uma estrutura de madeira – a garagem. A casa tem dois pavimentos e um porao bem aproveitado, no qual, a propósito, fica meu quarto. A porta de entrada dá para uma saleta que tem apenas os cabides para os casacos, uma cesta para os guarda-chuvas, uma mesinha com o telefone e uma cadeira ao lado dela. À direita, fica a escada muito bonita de madeira com degraus vazados, que leva ao primeiro andar e ao porao. À esquerda, um pequeno lavabo e a copa-cozinha. Em frente, um corredorzinho que dá para a sala de estar, a sala de jantar e a suíte do casal. Na sala de estar, sentamos toda noite em frente à lareira – acesa – para conversar e tomar vinho. Uma porta larga de vidro separa essa sala do quintal gramado, onde há mais flores, um laguinho artificial bem pequenino com umas pedras de seixo decorando e, lá no fundo, um casebrezinho de madeira como depósito.

O primeiro andar comporta o antigo quarto de Hille, o escritório de Harald, um pequeno apartamento onde morava a mae de Hannelore (salinha de estar – onde fica a única TV da casa –, separada do quarto por uma cortina, e uma minicozinha), e acho que o antigo quarto de Henrique.
Obs: Hannelore e Harald têm quatro filhos, na ordem: Helge (h), Henrique (m), Hanno (h) e Hille (m).

A casa tem livros por toda a parte, literalmente. Nos lugares mais inusitados tem prateleiras com livros, como em cima das portas, no corredor e em cima da mesa da copa, por exemplo, onde se encontram livros de receita. O escritório de Harald é muito interessante. Uma das paredes è mais curta e dela sobe o teto de madeira em diagonal (os telhados aqui sao triangulares, né… tao vizualisando?). Nesta “parede” ele afixou vários mapas. Tem um mapa mundi estilo antigo, mapa da Europa, uns três da terra-média (isso mesmo! A de Tolkien!)… Nas outras paredes, estantes com muitos livros, dos mais variados temas. No centro o computador e à direita dele um birô apinhado de papéis. È um dos lugares mais legais da casa =)

Quando se desce ao porao, logo à esquerda, fica o antigo quarto de Hanno, em frente a área de servico (lava-roupa, tábua de passar, varal), ao lado uma despensa com freezer e estantes com comida e à direita o meu quarto, com um banheiro grande ao lado. Meu quarto e pequeno e aconchegante. Tem carpete e paredes de tonalidade bege clarino, e móveis de madeira clara. Como nao poderia deixar de ser, uma das paredes è todinha ocupada por uma estante de três colunas, que comporta álbuns de fotos antigas, colecoes de enciclopédias, uns arquivos de revistas (ah, eles tem a colecao na national geographic) e uns vinis, predominantemente de música clássica, e duas prateleiras para meus livros e os outros que já pesquei por aqui pra ler ;). È nessa parede que está a porta. Encostada na parede oposta, a minha cama e um abajur. Na parede do fundo, tenho uma janela alta que dá para o jardim, e uma mesa de estudos. Do outro lado, o guarda-roupa. Já tenho fotos de vocês pelas paredes inteiras, e posso dizer que me sinto em casa aqui =).

RRZ (Regionales Rechenzentrum)
Quarta ao meio dia fui com o Piasta (programa para a integracao de estudantes estrangeiros) conhecer o RRZ, a central de computadores da universidade. A Uni-Hamburg nao tem exatamente um campus. Seus vários prédios, em sua maioria, se situam no coracao da cidade, e ficam meio difusos lado a lado com outras instituicoes e lojas. Alguns prédios ficam um pouco mais afastados, mas esses de que falo com mais frequencia – o de filosofia e o de ciencias sociais, além do WiWi onde tem uma cantina legal, se agrupam em torno de uma pracinha. O RRZ nao fica longe dali. Acostumada com os laboratórios de informática do CAC, fiquei bem impressionada com o RRZ. Nao porque ele tem o glamour de um CIN – o prédio em si é bem modesto, por sinal –, mas pela eficiencia com que cumpre a funcao a que se propoe. No RRZ temos duas salas para uso de PCs „normais“ (IBMs), uma sala para machintoshes e uma para linux!! HuhUhUHu!! Além disso, nao há limite de tempo para uso do computador e normalmente nao se precisa esperar horas para usar. Eu mesma, como normalmente chego bem cedo, nao preciso esperar nadinha. Podemos imprimir qualquer documento e apanhá-los na sala das impressoras, ao lado, numeradas de acordo com os computadores. Temos um limite de impressao de 50 páginas por semana!!! Hehehehe =) As máquinas sao muito boas e a conexao é rápida, e fiquei bem feliz por isso já que praticamente dependo do RRZ pra ter acesso à internet e a vocês. Muito legal.

Trabalho
Quarta foi também o dia em que finalmente saiu o meu contrato de trabalho. Depois da visita ao RRZ, fui encontrar com o Prof. Eichner. O trabalho é o seguinte: temos um contrato de obras, no qual a Universidade é a empregadora e eu, a empregada (xiki ;p); daqui até dezembro, fizemos uma estimativa sobre horas de trabalho, e um orcamento; até lá, receberei várias tarefas para serem realizadas e em dezembro, no vencimento do contrato, receberei o pagamento todo de uma vez. O professor trabalha com muita coisa interessante em sociologia, e meu trabalho é auxiliá-lo. Minha primeira tarefa foi organizar umas tabelas, transferindo uns dados de um arquivo para outro – um trabalho simples, mas demorado, pelo fato de o arquivo ter quase 300 páginas. Saí quarta-feira da universidade com contrato fechado e um laptop pesado pendurado no ombro pra fazer o trabalho.

Quinta

Vorlesung
Quinta de manha, como todas as quintas, fui pra aula de alemao. À tarde, tinha uma Vorlesung. Uma Vorlesung é uma aula livre, aberta pra todo mundo, na qual nao se faz provas nem nada parecido. Essa era sobre desenvolvimento (como em países desenvolvidos e subdesenvolvidos), um histórico do termo ao longo da história, desde a renascenca até os nossos dias. A aula acontece num auditório enorme – umas três vezes ou mais o auditório do CAC –, que fica lotado. O professor lá na frente, lá em baixo, fala num microfone e usa transparencias, e as pessoas cá tomam notas concentradas. E nao vao receber nota por isso. Como eu nao estava entendendo nada da aula mesmo, fiquei só refletindo sobre isso... sobre o que representa a universidade, o que aquelas pessoas estao fazendo ali, e sao muitas pessoas! Como é diferente do Brasil. Aqui as pessoas têm um hábito interessante – sempre ao fim das aulas, todos batem de punho fechado na mesa (como quem bate numa porta), para aplaudir :) Eu teria que escrever muito sobre esse ponto, mas ainda nao dá...

Sexta

Buchholz parte II - a casa
Sexta foi um dia chatinho e carinho. Nao tenho aulas às sextas, entao aproveitei para tentar resolver minha questao na secretaria municipal para estrangeiros. Tem que ser no município onde voce mora, que no meu caso é Buchholz, e nao Hamburgo, e é aí que comeca a aventura.
Buchholz é uma cidadezinha minúscula ao sul de Hamburgo. Como eu nao moro exatamente em Buchholz, mas num vilarejo pertencente a ela chamado Dibbersen, desci a rua (20 minutos a pé), perdi o ônibus (porque quando ia sair, a porta estava trancada, e eu tinha perdido a minha chave) e tive que esperar uma hora na parada pelo próximo (nao adiantava voltar pra casa pq só pra ir e voltar em precisaria de 40 min). Entao lá vou eu para Buchholz. Tentei me animar com o fato de que sempre quis conhecer cidadezinhas na Alemanha – achava que as tradicoes populares seriam mais vivas. Chegando lá, uma decepcao... muito sem graca, o centro da cidade é um conglomerado de lojas em construcoes tipo caixao sem a minima cara de riqueza cultural. Andei três quarteiroes (nos quais tive a sensacao de já ver a cidade inteirinha) até a prefeitura igualmente sem graca, pra chegar lá e me avisarem que a cidade nao tem secretaria de estrangeiros, mas está submetida a uma outra cidade maiorzinha, ainda mais ao sul, só que nao se sabe exatamente como chegar a ela de ônibus... só se sabe que se leva meia hora de carro. Como eu nao tinha carro, voltei pra casa com maos e passaporte abanando, ensopada de chuva, com frio e frustrada. Minha esperanca é que mais ao sul, na Bavaria, por exemplo, existam cidadezinhas com algum vestígio de cultura popular mais antiga; e que eu consiga fazer meu registro em Hamburgo.
Enfim... cheguei em casa quase meio dia, tomei um banho quente e nao queria mais sair até o inverno acabar. No fim da tarde, me forcei a me arrumar, descer de novo até a parada e ir-me embora até Hamburgo encontrar-me com Sonja, para irmos a uma festa numa casa de estudantes estrangeiros. No ônibus, descobri que a passagem até o ponto onde posso pegar trens dentro de Hamburgo custa €3,20! E eu já tinha pago €1,50 pra ir e mais €1,50 pra voltar de Buchholz em vao. Só podia rezar que a pesta fosse boa. Dentro de Hamburgo e regiao metropolitana, nao pago transporte porque a taxa semestral da universidade proporciona um tocket de passe livre o semestre inteiro. Gracas a Deus, recebi a boa notícia de que, a partir de dezembro, Buchholz, e também Dibbersen, vao fazer parte da regiao metropolitana.
Decidi ir à festa exclusivamente por nao querer entrar em depressao por causa do frio... De fato, a noite nao foi ruim. Chegamos à festa, tinha gente da itália, da espanha, da inglaterra, do chile – ninguém do Brasil, pra variar, mas tocaram JORGE BEN!!! Nao ele, mas uma versao de uma musica dele. Foi o ápice da festa! O resto foram conversas superficiais e sem futuro, mais um pouco de danca e pronto. Quando cheguei à casa de Sonja, onde ia dormir pq n dava pra voltar pra casa, a primeira coisa que fiz foi ligar pra Harim, porque festa sem ele é difícil ter graca. Conversamos um pouco, adiamos um pouco o óbito por saudade e fomos dormir mais felizes.

Sábado

Acordei umas 10 da manha, já estava sozinha na casa de Sonja, porque ela já tinha ido ao trabalho. Para nao pagar os malditos €3,20 de volta pra casa, decidi passar o dia lá porque à noite Harald e Hannelore iriam a Hamburgo visitar Helge – eu encontraria com eles lá e voltaria de carro pra casa. Foi o que fiz. Durante o dia, vi TV, usei a internet e telefonei muuuito muito :) Passei muito tempo falando com mainha, e conversando sobre essahistória de sair ou nao sair, me mexer ou nao me mexer. Chegamos à conclusao de que, como eu nao tenho vontade mesmo de me mexer, vou aproveitar pra estudar mais :) Assim fico sentadinha no meu quarto quentinho e pronto :) Nada de me debandar de noite ou fim de semana pra festas sem graca só porque “tenho que memexer”. Esse é um ponto importante, que perpassa todo o meu inverno aqui. Quero terminar o primeiro semestre bem melhor no alemao, pra conseguir aproveitar o segundo direitinho.

Domingo

Como nao fiz nada do trabalho no sábado, passei o dia inteiro no domingo trabalhando, porque queria estar com tudo pronto na segunda. Foi isso.

Finalmente está concluída a semana passada. À medida que as coisas vao entrando numa rotina aqui, nao se jsutifica eu ficar escrevendo dia a dia como foi essa semana – e eu só fiz isso porque cada experiencia trazia consigo uma descricao contextual, e nao meramente factual (acordei, tomei café, escovei os dentes, blablabla). É isso que deverei fazer daqui pra frente, escrever sobre experiencias relevantes ou aspectos interessantes das coisas que posso observar aqui.

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