Não tenho tempo pra nada. Meus dias começam e acabam, ao longo de suas vinte e quatro horas apertadinhas, e novos dias se seguem, e eu não dou conta de fazer todas as coisas que obrigatoriamente tenho que fazer, todas as coisas que envolvem responsabilidade. Preciso escrever dois artigos nas poucas próximas semanas e tenho muitas leituras a fazer, para as quais não tenho tido tempo. Ainda assim, estou lendo Saramago. Não vai me ajudar em nenhum artigo, nem tem relação com nenhuma das urgências em minha vida... Mas o Evangelho Segundo Jesus Cristo apareceu de um jeito engraçado, insistente, irresistível.
João me deu para entregar a Gabi no trabalho, no dia seguinte. Ela faltou. Voltei com o livro pra casa. Dois dias depois, Lívia me deu o mesmíssimo livro pra entregar pra Sérgio no trabalho. Ele também faltou. Fiquei com os dois livros em casa. Quis entregá-los na reunião interna coletiva - os dois faltaram. Enfim... Entendi o recado e comecei a ler :)
Ainda estou bem no começo... Estou amando.
Tive uma experiência ruim com Saramago - li Todos os Nomes até a metade, e juro que me esforcei, mas achei o livro o maior dos tédios. Desde então desisti de Saramago. Não tinha nenhuma pretensão, nenhuma expectativa sobre o Evangelho. O livro de cara me supreendeu. Ainda não tenho expectativas, sigo página a página... Mas a abordagem dele sobre as mulheres, a condição feminina, é fa bu lo sa. Comovente e irritante, envolvente e repugnante, pela beleza do trabalho e pela feiúra da realidade a qual este retrata. E carrego essa condição antropologicamente em minha memória reptiliana, nas células de meu útero, no meu sangue de mulher, que ferve, ao passo que as lágrimas caem. Mas depois respiro fundo, e sinto que não tem que ser assim.
Porque esse livro insitiu pra ser lido assim, ainda não sei exatamente - mas só isso que citei já vale a pena.
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