As mulheres que vivem em um sistema tribal convivem com as 'grandes mães' - velhas que tem o corpo e a alma marcados pela experiencia da vida, que sao as guardiãs da sabedoria que as jovens verdinhas vão precisar.
No sistema social em que eu estou inserida, é realmente um privilégio conviver com alguém como ela, velha sábia de faro aguçado e intuição viva.
Eu ouço atenta suas palavras, ora rabugentas, ora divertidas, ou graves como quem sabe o que diz, ou às vezes à esmo, como quem fala por falar. Mulher simples, pouco estudo. Figura grande, forte e negra. Fala sem firulas e fala o que lhe vem na cabeça. Sinto que um milhão de vozes, de um milhão de anos, falam através dela. Se alguém quer pesquisar ditos populares, ela é a pessoa certa pra se procurar!
Alguém que não preste atenção, não percebe que ela é como um oráculo e pode acabar tomando-a por velha destrambelhada. Isso porque ela não pensa muito nos adjetivos que a ela serão atribuídos. Faz o que tem vontade. Nas rodinhas de piada e cachaça, ela é a mais falante. Tomam-na também por rabugenta e resmungona - com o que tenho que concordar! Heheheh!
Mas não é só isso!
Eu a escuto, rio e digo: "preciso conversar com a senhora com um caderninho na mão... pra anotar tudo!"
Tem umas que, mesmo sem caderninho eu anoto no corpo e na alma. Fico toda orgulhosa brincando de "herdeira da sabedoria".
Aí ela diz pra mim:
"eu já fui flô, Ana.
Hoj eu sou tiririca do brejo".
e como uma criança que veste as roupas da mãe na frente do espelho, eu penso cá comigo...
"eu também quero ser tiririca do brejo".
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